As crianças na Pintura- evolução dos direitos e do estatuto de ser criança
- Helena Prieto
- 14 de dez. de 2017
- 3 min de leitura
Chamando a atenção em especial para duas pinturas - Os censos de Belém de Pieter Bruegel, o Velho e O pequeno almoço de François Boucher , iremos ver como a forma de ver as crianças foi evoluindo ao longo dos tempos na Europa.

Quando Bruegel pintou este quadro, as crianças não tinham estatuto ou direitos especiais. Se repararmos no pormenor que aqui se apresenta, observamos as crianças a brincar com objetos do dia-a-dia do mundo dos adultos que elas adaptam para as suas brincadeiras de inverno num lago gelado, dando-lhes novas funções: assim um banco de três pernas e cestas de verga transformam-se em trenós para deslizar no gelo.De facto, nesta altura não era comum as crianças terem brinquedos especialmente feitos para elas, nem tão pouco vestuário específico. A moda infantil ainda não tinha sido inventada. As crianças estão vestidas da mesma forma que os adultos. O seu vestuário apresenta apenas a variante adaptada ao tamanho das crianças. Elas são como adultos em miniatura e esperava-se que a partir dos 5 anos trabalhassem nos campos ou em casa. Poucas iam à escola ou recebiam uma educação formal. O direito à educação e o direito a brincar, mesmo nos nossos dias continuam a não ser universais.

O pequeno almoço de François Boucher (séc. XVIII) revela uma nova mentalidade que considera o direito das crianças de crescerem junto da sua família, o que era bastante inovador para a época , tendo em conta que as crianças das famílias abastadas eram normalmente criadas por amas de leite e mais tarde enviadas para conventos(raparigas) ou colégios (rapazes) até à idade adulta ou educadas em casa por tutores. Esta pintura representa o direito à família e a viver numa casa digna e apresenta, pela primeira vez, o conceito de família nuclear.Olhando mais de perto a pintura, observamos que ambas as crianças estão vestidas de forma semelhante parecendo duas meninas quando, na realidade, se trata de uma menina e de um menino. Não havia distinção no vestuário dos rapazes e raparigas até mais ou menos aos 5 anos. Todos vestiam vestidos. Contudo, nesta pintura, observamos que as crianças já têm brinquedos –objetos especialmente feitos para elas.Observando melhor a criança em primeiro plano, damos conta de que o seu vestido tem umas rédeas nas costas . Não são para a proteger, mas sim para impedir que gatinhe, comportamento que era considerado “animalesco”. A educação das crianças era severa e qualquer comportamento semelhante ao de animais era rápida e totalmente erradicado.As crianças pequenas não eram consideradas como pessoas. Acreditava-se que elas estavam mais perto dos animais e à mercê do Diabo, sendo que apenas uma educação rígida as poderia tornar seres humanos e bons cristãos.Uma grande alteração na mentalidade da época consubstancializa-se no ensaio de Rousseau sobre a educação das crianças, “ Émile”, publicado em 1762, onde o seu autor argumenta que as mães devem amamentar os filhos e que a estes deve ser permitido que se desenvolvam livremente junto dos seus pais.
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
BIBLIOGRAFIA: HAGEN, Rose Marie e Hagen Rainer – Pieter Bruegel, the Elder: The Census in Betlehem, 1566: A village in Winter. In What Great Paintings Say: From the Bayeux Tapestry to Diego Rivera, London Taschen, 2009, Vol.I p.272-277;HAGEN, Rose Marie e Hagen Rainer – François Boucher: The Breakfast,1739: The birth of the nuclear family. In What Great Paintings Say: From the Bayeux Tapestry to Diego Rivera, London Taschen, 2009, Vol.II p.447-451.
Comments